quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Livro - Diário de uma paixão


Ali ficou...
olvidado,
escondido entre antigas fotos, cartões postais, chaveiros...
em um escuro e frio sótão

Ali ficou... durante anos
... silente...
Havia a tudo presenciado, os desejos, os sonhos...
suas orelhas ouviram promessas, juras... era encantado

Ali ficou... enterrado...
a linda caligrafia gravada com perfeição, carinho, dedicação... em suas páginas nunca folheadas
Uma história de um amor... contada, cantada em verso e lágrimas... marcando folhas...

Ali ficou...
toda verdade, toda declaração...
a vontade, ansia, da chegada... motivos e revelações..

Surpreendentemente em uma cinza e chuvosa manhã, precisamente às sete horas e quinze minutos do dia dois de agosto de mil novecentos e onze, em uma fria terça-feira, algo inesperado aconteceu...
Assim como os pingos da chuva... assim como a água da imensa tempestade, do dia, escoando pelas ruas... no interior das páginas;
 letras, sílabas, vocábulos, movimentam-se
 parágrafos, diálogos, orações, figuras de linguagem, interrogações... 
tudo... e abandonam a história...
Fim de um livro... vazio de uma vida.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Mude...

Quando penso que uma palavra
Pode mudar tudo
Não fico mudo
Mudo
Quando penso que um passo
Descobre o mundo
Não paro passo
Passo
E assim que passo e mudo
Um novo mundo nasce
Na palavra que penso

(Alzira Espíndola e Alice Ruiz)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

El Sol



El sol nos olvidó ayer sobre la arena,
nos envolvió el rumor suave del mar,
tu cuerpo me dio calor,
tenía frío,
y allí, en la arena,
entre los dos nació este poema,
este pobre poema de amor
para ti.



Mi fruto, mi flor,
mi historia de amor,
mis caricias.

Mi humilde candil,
mi lluvia de abril,
mi avaricia.

Mi trozo de pan,
mi viejo refrán,
mi poeta.

La fe que perdí,
mi camino
y mi carreta.

Mi dulce placer,
mi sueño de ayer,
mi equipaje.

Mi tibio rincón,
mi mejor canción,
mi paisaje.

Mi manantial,
mi cañaveral,
mi riqueza.

Mi leña, mi hogar,
mi techo, mi lar,
mi nobleza.

Mi fuente, mi sed,
mi barco, mi red
y la arena.

Donde te sentí
donde te escribí
mi poema.
(Joan Manuel Serrat)

O sol esqueceu-nos ontem na areia, nos envolveu o suave murmúrio do mar, seu corpo me deu calor, estava frio e estava lá, a areia entre os dois nasceu neste poema, este pobre poema de amor para você.

Minha fruta, minha flor, minha história de amor, minhas carícias.

Minha humilde candil, minha chuva de abril, minha ganância.

Meu pedaço de pão, meu velho ditado, meu poeta.

A fé que eu perdi, meu caminho e meu carrinho.

Meu doce prazer, meu sonho de ontem, minha bagagem.

Meu canto quente, minha melhor canção, minha paisagem.

Minha primavera, meu cañaveral, minha riqueza.

Minha lena, minha casa, meu telhado, meu lar, minha nobreza.

Minha fonte, minha sede, meu barco, minha rede e areia.

Onde eu me senti quando escrevi meu poema. 

(Joan Manuel Serrat)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sim... foi assim...


A Terra girou para nos aproximar
Eugenio Montejo - Caracas, Venezuela, 1938

A Terra girou para nos aproximar,
girou ao redor de si mesma e dentro de nós,
até que finalmente nos uniu neste sonho
como foi escrito no Simpósio
Noites passaram, neves e solstícios;
O tempo passou em minutos e milênios
Uma carreta que ia para Nínive
Chegou a Nebraska.
Um galo cantava distante
Na pré-vida de nossos pais
A terra girou musicalmente
Levando-nos a bordo;
Não parou de girar um único momento,
Como se tanto amor, tanto milagre
era somente um provérbio escrito há muito tempo
entre as partituras do Simpósio

"La tierra giró para acercarnos,
giró sobre sí misma y en nosotros,
hasta juntarnos por fin en este sueño,
como fue escrito en el Simposio.
Pasaron noches, nieves y solsticios;
pasó el tiempo en minutos y milenios.
Una carreta que iba para Nínive
llegó a Nebraska.
Un gallo cantó lejos del mundo,
en la previda a menos mil de nuestros padres.
La tierra giró musicalmente
llevándonos a bordo;
no cesó de girar un solo instante,
como si tanto amor, tanto milagro
sólo fuera un adagio hace mucho ya escrito
entre las partituras del Simposio".
(21 gramas)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Assim se sentia...

Parecia que nada a renovaria
Estava predestinada a tal
Na verdade sempre foi nó, muito só...

Assim se sentia...

Uma beata entediada na submissão da oração
Devoradora de fé, esperança e alegrias
Era o sinônimo de cansaço, desesperança e exaustão...

Assim se sentia...

Parecia que nada e ninguém a suportava.... pudera...
Um cadáver ambulante "zumbiziguiando" pelas semanas...
Tudo faziam para evitá-la... sem conseguir...

Assim se sentia...

Queriam vê-la a distância
Ninguém gostava dela.... nela... por ela
Repudiada, rejeitada, negada...
Até mal falada...

Assim se sentia...

Mudou... por um decreto... transformou...
Era uma vez uma segunda-feira que virou feriado, decidido e enforcado.
E foi assim que se tornou desejada, cobiçada, realizada e muitos "adas"...
Passou a se sentir..

Ela... a tal segunda-feria.