Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...(Nemo Nox)
E existiram várias, ainda existem… algumas pedras pequenas outras tão grandes que eu até julguei não poder movê-las… Mas tive força, venci o peso, venci as dores que me causaram… e as fui deixando em um canto… não podia simplesmente jogá-las em algum lugar, não.. faziam parte da minha história.. e assim, ali ficaram… acumulando… amontoando…
E, então, num amanhecer qualquer de um dia nublado, vi Martinho, meu falante esquilo, olhando para todo aquele aglomerado… e mudo… ineditamente mudo… Cheguei mais perto… evitava olhar tudo aquilo… mas fui chegando mais perto… E ele ficou olhando-me de frente, me encarando, de um jeito único, que nunca fez. Depois de um tempo que não sei se levou horas, minutos ou segundos… ele falou:
- Lindo o que você construiu…
- Não construí nada, Martinho - olhei para aquele monte de pedras - veja.. não existe nada..
- Você não está conseguindo enxergar… daqui, de onde estamos, você não vê… Suba..
- Subir? Onde Martinho?
- Vá.. voce entendeu… escale a sua montanha…
E me olhou daquele jeito que só ele sabe fazer, como querendo dizer algo, do tipo "Vá sem temor, deixa de ser boba, você entendeu", porque ele é assim, adora dar palpites e ordens…
E lá fui eu… sem nem pensar o porquê… sem nada enxergar, pois a bruma entrava pelos olhos e cegava a alma…. obedecendo cegamente… subi… subi…
Cheguei ao topo… limpo, claro, cristalino… o céu azul… a névoa ficou para trás…
Do cume, uma visão maravilhosa… enxerguei o mundo… a vida.
Abri os braços.
Livre… eu… parecia voar…
Escutei Martinho, ao meu lado, dizendo:
- Veja, não tenha mais medo, essas pedras não conseguem mais te atingir… Você não fez um castelo e sei que não o queria fazer, pois castelos você teve… e muitos..
Não, você não iria construir mais uma prisão, você construiu sua liberdade. Essas pedras são "o seu passado", olhe-as quando tiver dúvidas ou para se recordar de como foi difícil chegar aqui em cima… mas continue sempre subindo… subindo… Você está acima delas, lembre-se sempre disso… e viva a liberdade que você tanto sonhou e construiu. E agora, prometa-me uma coisa…
- Diga, Martinho, o que é?
- Quando você estiver triste, suba a sua montanha, veja a vida… o mundo… veja o que você ergueu, edificou… Prometa-me que seus olhos vão ter este azul- céu - limpido-tranparente que você conquistou.. Promete para mim que vai ser feliz? E saiba, que sempre, sempre, estarei ao seu lado, mesmo quando você não estiver sentindo.
- Prometo… sim, Martinho, eu prometo.
Como um delicado beijo, uma brisa passou pelos meus olhos, boca, acariciou meus cabelos e uma enorme paz transpassou-me, deixando um suave perfume de tulipas… tulipas amarelas.
E assim me deixei ficar ao seu lado… enquanto meu coração dizia baixinho:
- Obrigada… Obrigada, meu Martinho.