Porque amanheci quintaniana... e quero tudo hoje.... agora... vou... fui...
Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.
Ela queria esculpir uma palavra, não qualquer palavra, queria "A Palavra", aquela já madura, como fruta pronta no pé. Queria jogar esta Palavra-semente ao chão, para germinar, fecundar, brotar… e se espalhar como uma flor-de-amor, com harmonia e paz, que descobriu no lindo jardim de seu coração…
Pois nesse terreno de sentimentos, que um dia se inundou em lágrimas, que foi arado e revirado pela dor, hoje vê surgir flores lindas, perfumadas… onde antes era caos, mato, confusão, tornou-se um lindo campo, de gramas em vários tons de verde, coloridas flores, árvores e um céu azul de algodão doce.
Sua escrita é em technicolor e desliza em paz descrevendo o mundo com seus dedos de raios, colhidos nas tempestades…. e ri…. sorri… pois tudo é belo.
Sente a terra, a grama, em seus pés nus e caminha, porque existem mil razões para se ir em frente, mesmo que, ainda, secretos, escondidos. Guia-se pelas flechas do amor, dança com flores, segue com as estrelas. Leva a primavera em uma cesta, espalhando pétalas, sementes e aromas…. para na volta trazer as folhas secas do outono e se esquentar no inverno.
Descobriu que é abençoada… descobriu que em seu coração moram três anjos… e que, por esta razão, foi e será eternamente feliz.
Rasgou o medo em mil pedacinhos e lançou ao vento… não… nunca mais precisaria deste. Havia encontrado mais, muito mais do que "A Palavra"… Havia encontrado o Paraíso.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...(Nemo Nox)
E existiram várias, ainda existem… algumas pedras pequenas outras tão grandes que eu até julguei não poder movê-las… Mas tive força, venci o peso, venci as dores que me causaram… e as fui deixando em um canto… não podia simplesmente jogá-las em algum lugar, não.. faziam parte da minha história.. e assim, ali ficaram… acumulando… amontoando…
E, então, num amanhecer qualquer de um dia nublado, vi Martinho, meu falante esquilo, olhando para todo aquele aglomerado… e mudo… ineditamente mudo… Cheguei mais perto… evitava olhar tudo aquilo… mas fui chegando mais perto… E ele ficou olhando-me de frente, me encarando, de um jeito único, que nunca fez. Depois de um tempo que não sei se levou horas, minutos ou segundos… ele falou:
- Lindo o que você construiu…
- Não construí nada, Martinho - olhei para aquele monte de pedras - veja.. não existe nada..
- Você não está conseguindo enxergar… daqui, de onde estamos, você não vê… Suba..
- Subir? Onde Martinho?
- Vá.. voce entendeu… escale a sua montanha…
E me olhou daquele jeito que só ele sabe fazer, como querendo dizer algo, do tipo "Vá sem temor, deixa de ser boba, você entendeu", porque ele é assim, adora dar palpites e ordens…
E lá fui eu… sem nem pensar o porquê… sem nada enxergar, pois a bruma entrava pelos olhos e cegava a alma…. obedecendo cegamente… subi… subi…
Cheguei ao topo… limpo, claro, cristalino… o céu azul… a névoa ficou para trás…
Do cume, uma visão maravilhosa… enxerguei o mundo… a vida.
Abri os braços.
Livre… eu… parecia voar…
Escutei Martinho, ao meu lado, dizendo:
- Veja, não tenha mais medo, essas pedras não conseguem mais te atingir… Você não fez um castelo e sei que não o queria fazer, pois castelos você teve… e muitos..
Não, você não iria construir mais uma prisão, você construiu sua liberdade. Essas pedras são "o seu passado", olhe-as quando tiver dúvidas ou para se recordar de como foi difícil chegar aqui em cima… mas continue sempre subindo… subindo… Você está acima delas, lembre-se sempre disso… e viva a liberdade que você tanto sonhou e construiu. E agora, prometa-me uma coisa…
- Diga, Martinho, o que é?
- Quando você estiver triste, suba a sua montanha, veja a vida… o mundo… veja o que você ergueu, edificou… Prometa-me que seus olhos vão ter este azul- céu - limpido-tranparente que você conquistou.. Promete para mim que vai ser feliz? E saiba, que sempre, sempre, estarei ao seu lado, mesmo quando você não estiver sentindo.
- Prometo… sim, Martinho, eu prometo.
Como um delicado beijo, uma brisa passou pelos meus olhos, boca, acariciou meus cabelos e uma enorme paz transpassou-me, deixando um suave perfume de tulipas… tulipas amarelas.
E assim me deixei ficar ao seu lado… enquanto meu coração dizia baixinho:
O contrário de bom - ruim, de belo - feio, de claro - escuro, de verdade - mentira, de tristeza - alegria… Será mesmo? Entre o bom e o ruim, existe que distância? Entre o belo e o feio, quem define absolutamente o que é o que? Qual a verdade? A minha, a sua ou o fato? O que é alegre pra mim, é igual para você? Quem é quem pra atirar a primeira pedra, ou definir verdades absolutas, estabelecer julgamentos, quem dá esse poder a quem?
Pensar em "contrário" me faz pensar inevitavelmente em relatividade. E em conveniências. E em circunstâncias. Somos nossas circunstâncias, e dentro delas agimos. Fico matutando algo que estivesse acima dessa relatividade existencial. Circunstancial.
Nada me ocorre. Quer dizer, algo me ocorre. Faz tempo que não penso nessa palavra, não a ouço também, nem sei se ela ainda existe.
A palavra? Compreensão. Que estranha, não? Não parece absolutamente fora de moda? Para falar sobre o que é contrário a que, a ponte poderia ser essa coisinha boba, a capacidade de compreender o que se passa de forma maior. Compreender que tudo é uma coisa só, que hoje o que julgamos, amanhã pode ser o que nos julga. Compreensão. Solidariedade. Amizade. Gentileza. Sutileza. Delicadeza. Suavidade. Generosidade. Doçura. Leveza. Compreender o outro dessa forma, gentil, sutil, delicada, suave, doce, leve. Isso é tão contrário ao que se vê.. já não se vê…
Tanto devaneio na verdade, é uma tentativa de enxergar qual seria o "meu" contrário, uma forma de tentar escapar de meu próprio crivo, e me abandono. Tento, mas só encontro o vazio… silêncio… pois o meu contrário deve ser o "grito", a "guerra, a "luta"… E decido que não vou me virar do avesso… não sou o meu contrário. Querem.. mas não... não...
Construo um silêncio onde me prendo. Prefiro ser céu, estrela e nos dias tristes, cinzas, me esconder nas nuvens, que passam… tudo sempre passa.
Olhando a beleza de uma ação, da natureza, da emoção, do sentimento… real, bela, belo… também não encontro o contrário, não encontro….
A vida é vivida a partir de parâmetros. Configuramos e reconfiguramos valores e conceitos ao sabor das linhas desenhadas no caderno de nossa existência. A cristalina certeza de ontem é hoje a opaca dúvida que nos atormenta. Ou talvez não.
Quero continuar assim… ser a emoção, ser o sentido, a solidariedade… Não definir o contrário. Jamais ser o contrário. Quero ser fiel a mim...
Existem momentos na vida que, tudo, por todos os lados é magicamente novo, no entanto, algo surge dentro da gente, como se fosse uma antiga história a sulcar e nos faz encontrar em almas, perto e longe, desconhecida tão conhecida... Uma imaginação, um sentimento insano que te põe um sorriso e coloca os pensamentos desordenados. É a revolução interna acontecendo para mais uma vez nascer e renascer. Um tempo de escolhas, de abnegação... de transformações. Da surpresa, do inesperado. Da magia.
Receosa, lenta e cuidadosamente....
Como o coração apertado entre os dedos, pulsando em descompasso e fazendo suas mãos tremerem... uniu forças e virou a página, já marcada, de seu livro de memórias...
Lá estava... como temia... um grande, definitivo e doloroso ponto final
Justo na linda parte de sua história... onde ela encontrava seu único e verdadeiro amor. Um pequeno ponto, uma grande dor.
Subitamente, uma lágrima escorreu redesenhando o abominado ponto... Seria uma vírgula?
Você chegou como o brilho de uma rara estrela, como um cometa que só se mostra de tempos em tempos… Lindo… jovem… porém triste… sereno. Envolveu-me em teus braços e contou histórias de sua vida, uma, ainda, pequena e linda vida. Presenteou-me com seu mais doce sorriso e beijou minhas cicatrizes. Profundas, graves e silenciosas. Deu-me esperança e fé.
Sei que assim como veio… um dia se vai.
Lembre-se de mim em algum momento, não me esqueça em qualquer esquina.
Siga seu caminho… voe alto… espalhe sua ternura.
Um pouco de você ficou em mim, e agora, você também, carrega um pedaço de mim…
Você será sempre uma deliciosa lembrança.
Vá… seja feliz… estarei torcendo por você. Sempre.