quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Faz de conta


 

      

Faz de conta que o céu está lindo, que a saudade é pequena e que a fé é imensa.

Faz de conta que a dor não existe, foi embora para não mais voltar.

Faz de conta que ama e que, também, é amada. E que o amor sempre vem, mesmo tardio.

Faz de conta que nada mais sangra, que o sonho não acabou e que o riso é constante. 

Faz de conta que quando o desejo chega a esperança nos encontra e faz brilhar.

Faz de conta que num piscar de olhos a gente constrói o que quiser e idealizar.

Faz de conta que o amor é tanto que corre das veias e chega a sobrar e encantar. 

Faz de conta que a inocência ainda existe e está bem pertinho da gente. 

Faz de conta que as pessoas que a gente gosta aparecem em sonho para nos visitar.

Faz de conta que o fio da vida é longo e que nele cabe a eternidade. 

Faz de conta que as cantigas da infância ocupam o lugar do choro. 

Faz de conta que a gente consegue desatar os “nós de marinheiro” que a vida dá. 

Faz de conta que não é preciso inventar nenhum “faz de conta” para viver.

Faz de conta.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Tocar você…


 

E de repente penso… bem baixinho… desculpa, mas se eu não te tocar agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas me sentindo inspirada, livre… não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade enorme de estender o braço e tocar você...


... porque adorei te encontrar, deu vontade de ficar mais tempo junto, deu vontade de levar esta história até o fim. Mesmo que a gente se perca, não importa. Mesmo que se transforme em passado antes de virar futuro, tudo bem. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.


Pois… ando perdida… sentindo essas coisas que não compreendo direito. Não gosto de não entender. Não gosto de lidar com o que não conheço. Percebe? 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Diamante bruto

José Ferraz de Almeida Junior - Brasil 1893 - Pinacoteca de São Paulo.



- Encaixou? Era esta a peça?

- Sim, perfeito, doutorinha… Encaixou que nem “dedo no nariz”…

É… Ele é assim… Resposta para tudo… do seu jeito… e, também e principalmente, o silêncio no momento exato. Tem aquele sorriso generoso de quem acha a vida simples e bonita. Senta na soleira da porta e come, com gosto, o feijão com arroz polvilhado de “fubá torrado” feito no dia, mas já frio. Come e oferece, enquanto se diverte contando seus “causos”. Ele conta as histórias da vida, também da minha vida, conhece todos por nome, idade e biografia. Percebe as alegrias e tristezas dos bichos. Diz que “do boi se aproveita até o berro”. Canta, conta e encanta... Conversa com as plantas e os animais. Prenuncia se vai fazer sol ou chuva, apenas olhando para o céu e dificilmente erra. Diz que “estamos nessa vida só para buscar uma “muda” de roupa”, com a seriedade de uma revelação. Mal sabe ele como me ensinou tantas coisas bonitas nos dias que estive ao seu lado. Acha que sei mais da vida por ser “doutorinha”... Se ele soubesse o quanto é doutorado e mestrado na vida... Um filósofo por pura e inocente natureza. Um diamante bruto, um touro que não pisa em uma flor, mas mata por sua consciência e convicção. Um sábio.. um mestre. A quem eu tiro o chapéu.

Já sinto saudades, meu grande Guru. Volto quando souber a resposta, que vi em seus olhos, da pergunta que ainda não descobri. E… Obrigada.


Felicidade é entender a importância da simplicidade da vida e aproveitar cada instante… 

Euzinha, aquela que demorou quatro décadas para chegar a este pensamento.

Explica?


 E assim vou te conhecendo…. Juntando suas palavras, unindo suas histórias… vendo você aqui, ali... e as vezes na falta total de você… 
E se eu estiver errada?… para isso trouxe papel e caneta. Você me explica?


As interrogações são muitas e agora mudas

Já não me encontro resignada ao destino. Sou livre…


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Ciclos

                                        Escultura em bronze - Tica e Teco

Na mesa do escritório a esquerda da sala, observe, há uma pequena escultura que um dia sonhei, antes, foi apenas uma argila e, antes, bem antes de tudo, já foi terra vulgar a beira de um rio. Um pedaço minúsculo qualquer em algum lugar do mundo.
Observe, há uma pequena escultura em espelho nas páginas de sua história agora quando entre seus dedos, essa folha, ainda é semente.

Nem tudo é inacabado, às vezes se molda
Nem tudo é imediato. Existem ciclos.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Coração de gelo...



Uma fina geada cai em minh’alma.
Noctâmbulo, meu olhar passeia pelas folhas secas voando cegas pelo crepúsculo do outono em meu jardim. Desvio para as páginas nuas, na escrivaninha, aguardando minhas ordens, como soldados uniformizados, as palavras vigiam-me, guardiãs, de seus respectivos postos. As mãos, trêmulas, tentam em vão desembrulhar a estranheza deste momento. As letras ficam presas aos dedos.  Negam-se a liberdade.
Inércia...
Observo a vela ao lado do metrônomo, sobre o piano, vejo o modo como as chamas bailam, ritmadas, diante de meus olhos. O vento, brando, não faz nenhuma ameaça ao fogo. O frio, a passos lentos, adentra por entre as frestas da janela. Loui, meu astuto gato, se refugia em frente à lareira. 
Apático...
Em meu peito, o coração gelado ameaça fragmentar-se. Sinto frio... na alma. A dor corta, como chuvas de estalactites batendo em meu peito de uma caverna escura. Nada faço. Deixo que se espalhem pelos olhos, pelo rosto, pelo corpo, até me cobrirem por completo. Sangro-me em formas de orvalho, de chuva... de lágrimas.
Cicatrizes que nunca saram...
Este frio me é axiomáticamente íntimo. Enlaçamo-nos de nosso próprio vazio e, assim, nesta paisagem oca e imóvel, em algum outro outono, nos fundimos. 
O peso congelante deste silêncio não tardará a me atrofiar os movimentos. Sinto. 
A lonjura muda destas palavras reduzirá a um ponto negro todos os instantes que vivemos. A estranha sensação da saudade, da separação, do desespero, esse mesmo que me segue há sete anos, agora me enche de desassossego.
Adormeça...
Ainda existe um tempo... não se esqueça de ajeitar o edredom. O inverno chegará. O inverno sempre chega.



 No tempo de dentro, tudo dá tempo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019